sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Há vagas!


Maira Nascimento

É fato: a engenharia automotiva brasileira está hoje num estágio de importância nunca experimentada. A demanda por novos veículos globais, somada às necessidades de redução de custos em desenvolvimento, deu o empurrão que faltava.Ninguém imaginava que o setor no Brasil precisaria de tantos engenheiros em tão pouco tempo. E o atual cenário é quase de empresas se estapeando por um profissional disponível.
FAMA - A capacitação da engenharia brasileira ganhou fama internacional na rabeira da facilidade por adaptar-se a condições difíceis e principalmente pelo hábito de trabalhar no baixo custo, tanto no que se refere a projeto quanto remuneração propriamente dita, especialmente quando comparado a Europa ou Estados Unidos.
A instalação ou ampliação de bases locais de engenharia, como exemplo recente da Renault, também serviu para expandir as opções de emprego destes profissionais. Segundo a SAE Brasil apenas 8 mil dos 20 mil formados anualmente segue, de fato, carreira na engenharia, contando todas as áreas. E, mais preo­cupante, são necessários oito anos de especialização para a plenitude de um engenheiro recém-formado. Como o mercado tornou-se escasso a entidade e diversas universidades passaram a oferecer opções para acelerar este tempo de maturação.
No ano passado a General Motors contratou trezentos engenheiros e até o fim de 2007 terá mais duzentos. Pedro Manuchakian, vice-presidente de engenharia da GM LAAM, afirma que 40% das vagas são ocupadas por recém-formados.
A Ford também contrata. Mílton Lubraico, gerente executivo de gerenciamento de programas para América do Sul, calcula que desde 2001 a montadora já multiplicou por cinco o número de engenheiros: “E vamos crescer ainda mais. Até 2010 chegaremos a uma equipe com 1 mil engenheiros só no País”.
José Luiz Albertin, diretor de pós-graduação da SAE Brasil, argumenta que, em realidade, não faltam engenheiros no mercado – faltam sim engenheiros preparados para atender ao atual nível de exigência da indústria automotiva. “Para antecipar o ciclo destes profissionais há vários caminhos, como as atividades universitárias, cursos extra-curriculares, a pós-graduação e o mestrado.”
Foi pensando em aumentar a velocidade do aperfeiçoamento técnico do engenheiro que a entidade uniu-se à Unicamp e ao ITA, o Instituto Tecnológico da Aeronáutica, para oferecer um novo curso de mestrado em engenharia automobilística. A idéia é iniciá-lo ainda neste primeiro semestre, assim que obtiver a aprovação do MEC, Ministério da Educação e Cultura.
Por seu lado o campus da FEI em São Bernardo do Campo, SP, cerca o estudante de opções de desenvolvimento para aproximar o aluno da realidade das empresas. São eles, explica o coordenador do curso graduação de Engenharia Mecânica Automobilística, Ricardo Bock, que beneficiam o aluno na hora da disputa por uma vaga: “O desenvolvimento de programas como construção de veículos e participação em competições universitárias coloca os alunos praticamente dentro das empresas”.
A FEI normalmente eleva em 10% ao ano o número de vagas para cursos específicos na carreira automotiva. Mas Bock adverte que “é preciso modernizar o currículo dos cursos para atender às atuais necessidades”. Além do curso de graduação em engenharia a FEI oferece mais dois cursos de pós-graduação – mecânica automobilística e administração e tecnologia automobilística –, que somam cem alunos matriculados. E ainda em 2007 será inaugurado o curso de mestrado em engenharia mecânica, resultado, segundo Bock, da intensa procura por atualização dos profissionais.Márcio Lucato, coordenador do curso de engenharia mecânica da Faculdade de Engenharia Mauá, argumenta que “a indústria também precisa investir no futuro profissional, seja por meio de estágio ou cooperação com as atividades acadêmicas”. Para ele a procura pelo curso de engenharia automotiva está intimamente ligada aos planos de investimento do setor.
“Isso explica a flutuação do número de vagas na engenharia mecânica: em 2000 formamos sessenta engenheiros mecânicos, em 2002 97 mas, em 2005, foram apenas cinquenta. Quase todos, entrentanto, com empregos garantidos no final do curso.”Há sete anos a Poli USP oferece o curso de mestrado profissional em engenharia automotiva, com quadro docente formado por professores da universidade e profissionais do setor, um dos exemplos do caminho da interação empresa-universidade – tido pela maioria como o ideal para elevar o nível de formação da engenharia brasileira.Diversas montadoras investem no mundo acadêmico participando de fóruns, competições, congressos e feiras das universidades para antecipar a chegada de novos talentos à indústria. A GM, por exemplo, investe na construção de laboratórios com computadores para os alunos de engenharia da Poli USP de olho na antecipação de conceitos e conhecimento técnico e de software em design, desenvolvimento de produto e manufatura.
BASTIDORES - A disputa por profissionais, naturalmente, não está restrita apenas ao universo educacional – especialmente no atual momento, com vagas em aberto sem ninguém especializado para preenchê-las. A todo momento pipocam notícias nos bastidores de fortes assédios de montadoras sobre profissionais das outras, especialmente nos casos em que do outro lado há engenheiro que domina área de produto desejada. E, ao que tudo indica, a disputa tem tudo para tornar-se ainda mais intensa, valorizando o passe dos engenheiros.
Iniciativas como a da SAE deverão esfriar um pouco o movimento, mas até lá as notícias de transferência de engenheiros entre montadoras e até mesmo autopeças promete continuar.

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