Fonte: O Estado de S. Paulo - 14/01/2013
Em 2011, segundo o Banco Mundial, o Brasil teve exportações de bens e
serviços equivalentes a 13% do PIB. Numa lista de 179 países, o Brasil é
o que tem a menor relação entre importações e PIB. A grande maioria dos
dados é de 2011, mas, no caso de alguns países, o dado é de anos
anteriores (de 2007 a 2010). No grupo dos Brics, por exemplo, a China
tem importações de produtos e serviços de 27% do PIB, a Índia de 30%e a
Rússia de 21%.
Entre as principais economias da América Latina, o México tem
importações correspondentes a 32% do PIB, a Argentina a 20% e a Colômbia
a 17%. Mesmo os Estados Unidos, que são a maior e mais diversificada
economia do mundo, apresentam uma proporção de importações sobre o PIB
de 16%, maior do que a brasileira.
“Se a economia se fecha, a escala de produção é menor, o País não
importa as tecnologias mais avançadas e a produtividade é prejudicada”,
diz o economista Edmar Bacha, um dos “pais” do Plano Real, e hoje
diretor do Instituto de Estudos de Política Econômica/Casa das Garças
(Iepe/ CdG). Ele nota que uma empresa como a Embraer importa a grande
maioria dos seus componentes (como os motores Rolls-Royce britânicos),
mas, em compensação, tem um produto competitivo no mercado internacional
que lhe garante uma escala global para as suas vendas.
A preocupação de Bacha e de outros economistas liberais é como que vêem
como uma “guinada protecionista” do atual governo. Esta mudança pode
ser vista na elevação das tarifas de cem produtos, acertada com os
demais parceiros do Mercosul, e na proliferação de medidas de exigência
de “conteúdo nacional” em áreas tão distintas como petróleo, automóveis,
telecomunicações e medicamentos.
Custo dos investimentos
Em recente pesquisa com Regis Bonelli, economista do Instituto
Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getúlio Vargas no Rio
(FGV-Rio), Bacha investiga a alta histórica, ao longo do processo de
industrialização brasileiro, do custo dos investimentos. Eles encontram
evidência de que a substituição de maquinário importado por nacional é
uma das causas desse processo que, segundo Bacha, é totalmente
discrepante em relação à experiência histórica de quase todos os países.
Como os investimentos incluem também a construção civil, o economista
suspeita que cartéis em setores como cimento e aço também contribuam
para o alto preço das inversões no Brasil.
Bacha nota que o preço dos investimentos parou de crescer a partir de
1994, o que atribui aos efeitos da abertura comercial do início dos anos
90. Mas o custo de investir permaneceu num patamar elevado. Para o
economista, a guinada protecionista do governo torna ainda mais
improvável que o custo do investimento no Brasil convirja para níveis
mais comparáveis com os de outros países. Para o economista Maurício
Canêdo, do Ibre, um problema particularmente grave das recentes medidas
protecionistas é que elas atingem insumos intermediários, como máquinas e
equipamentos. “Proteção em bens finais, como automóveis, é ruim, mas dá
para lidar com isso; já proteção em máquinas e equipamentos é péssimo”,
diz.
A razão, segundo Canêdo, é que medidas protecionistas para insumos
intermediários oneram a economia como um todo, além de limitarem o
acesso a novas tecnologias. “Boa parte dos erros cometidos nas décadas
de 60 e 70 têm a ver com proteger demais o mercado desses insumos,e
aparentemente estamos cometendo o mesmo erro agora”, critica. O
economista nota que a recente desvalorização do real já contribui para
tornar mais caro o preço de máquinas importadas. Tanto Bacha quanto
Canêdo chamam a atenção para o fato de que até o Ministério da Saúde tem
políticas voltadas ao conteúdo nacional. “O Ministério da Saúde deveria
estar mais preocupado em diminuir a incidência de doenças do que em
viabilizar a produção de equipamentos médicos no Brasil, o que pode até
aumentar seu preço”, diz Canêdo.
Protecionismo
O economista Fernando Rocha, sócio da gestora de recursos JGP, no Rio,
acha que“houve sim uma guinada protecionista, e o governo está mais
propenso a ouvir lobbies que pedem proteção”. Ele acrescenta, no
entanto, que a postura do governo brasileiro deve se rvista no contexto
mais amplo de uma tendência global ao protecionismo. “O ambiente de
crise nem sempre leva ao melhor do ponto de vista econômico – em casa
que falta pão,todo mundo briga e ninguém tem razão”, comenta.
Dados levantados pela JGP mostram que as importações brasileiras como
proporção do PIB em 2012 estavam em 9,8%, menos que os 10% de 2001. Os
números são diferentes dos dados do Banco Mundial porque não incluem os
serviços. Já as exportações brasileiras de bens chegaram a 10,7% do PIB
em 2012, praticamente omesmo nível de 2001, quando foram de 10,5%.
Por Fernando Dantas/ O Estado de S. Paulo
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