Fonte: CIMM - 06/03/2013
Quando, em 1973, Monica Ferreira do Amaral Porto decidiu cursar
engenharia civil na Escola Politécnica (Poli) da USP, ela era uma das 14
meninas em um universo de 150 alunos. Nestes 40 anos, Monica, que
atualmente é vice-chefe do Departamento de Engenharia Hidráulica e
Sanitária da Poli-USP, nota um aumento significativo da presença
feminina nos cursos de engenharia.
Os
dados comprovam isso. Segundo o Anuário Estatístico da USP, em 2011 as
mulheres representavam 17% dos alunos de graduação de engenharia da
Escola Politécnica. Monica afirma que nunca teve qualquer tipo de
obstáculo por parte de colegas e professores ao estudar engenharia
civil. Em 2005, Monica foi a primeira professora titular do curso na
Poli. Em 2011, as mulheres correspondiam a 11% do corpo docente da
instituição.
"Posso contar nos dedos de uma mão as vezes que sofri qualquer tipo de
preconceito pelo fato de ser mulher", comenta a engenheira. Ela defende
que a complementariedade de visões é muito interessante, em qualquer
campo. "As mulheres têm facilidade para ter uma visão mais ampla do
problema, elas tendem a ser mais multidisciplinares. Já os homens
costumam apresentar uma visão mais focada. Essas duas visões em conjunto
são muito importantes na engenharia ou em qualquer outro segmento",
diz.
Monica acredita que há profissões que naturalmente têm um maior
encaminhamento de homens ou mulheres, o que não deve ser julgado como
certo ou errado. "O tratamento precisa ser igual, independentemente de
ser homem ou mulher, mas os números de cada um não precisam
necessariamente ser os mesmos", avalia.
Nos cursos de pós-graduação de engenharia da USP, as mulheres
correspondem a 25% dos alunos. A professora de engenharia civil, Monica
Porto, explica que o número de mulheres cresce em relação aos cursos de
graduação graças à visão mais multidisciplinar e também porque a maioria
dos alunos de pós-graduação estão na faixa entre 25 e 35 anos, época
que mulheres costumam engravidar. "Assim, elas aproveitam esse período
para buscar a especialização, em uma atividade não tão desgastante",
afirma Monica.
Profissionais
O Recrutando.com, portal de recrutamento especializado em engenharia e
TI, está em funcionamento há um ano e também traduz a tendência de um
número mais significativo de mulheres. "Cerca de 20% dos cadastros de
currículos na área de engenharia são de mulheres. Mas como o número de
engenheiros do sexo masculino ainda é bem maior, as empresas
naturalmente acabam recebendo mais currículos de candidatos homens",
explica o diretor de operações do site, Luiz Pagnez.
O
sócio e diretor comercial da Search Consultoria em Recursos Humanos,
Renato Maleckas, atuou por 16 anos na indústria de autopeças e
automobilística. Maleckas afirma que mesmo em uma indústria tão
tradicional, como é a automotiva, as mulheres já conquistaram seu
espaço.
"As mulheres de um modo geral têm características importantes para esse
segmento. Elas tendem a ser mais comprometidas, seguir mais os
procedimentos dentro da empresa e tem uma sensibilidade mais apurada, o
que é importante em setores que exigem mais cuidado, nos quais a peça
não pode ter qualquer tipo de risco ou dano, por exemplo", explica. O
sócio da Search diz que as mulheres apresentam um índice de perda de
peça 5% menor que o dos homens e são muito requisitadas em setores que
trabalham com material de precisão, como é o caso da estamparia e corte
fino.
Maleckas acredita que é saudável essa união de homens e mulheres dentro
da indústria automotiva. "Penso que daqui uns cinco anos as mulheres
estarão respondendo por 40% a 60% dos trabalhadores no segmento de
metal-pesado", avalia.
Na indústria de máquinas e ferramentas, a presença feminina também começa a ganhar corpo. A OSG Sulamericana,
fabricante de ferramentas de corte, conta com uma porcentagem de 10% de
mulheres. Na unidade de Bragança Paulista, no setor técnico, elas
ocupam 16% das vagas. Na área de produção, esse número cai para 7%.
Para a psicóloga do setor de RH da empresa, Suzimara Silva, as
mulheres, em geral, têm algumas características essenciais para o setor.
"Elas são mais detalhistas, tendo melhor desempenho nas atividades que
exijam maior concentração. São mais disciplinadas, cumprem melhor as
normas e regulamentos e também são mais estáveis, não trocam de emprego
com frequência", comenta a psicóloga.
Entre os colaboradores da Mitsui Motion Máquinas,
cerca de 40% são mulheres, que estão distribuídas nos setores de
vendas, engenharia, administrativo e RH. Uma dessas mulheres é Raquel
Barberino, coordenadora do departamento comercial da empresa. O desejo
pela área de engenharia já existia desde criança, quando desmontava
computadores, controles remotos e brinquedos eletrônicos para entender
como funcionavam. Mas o ingresso em um curso de engenharia não foi tão
simples. Vinda de uma família humilde, Raquel tinha que acordar às 4h da
manhã para ir a um cursinho preparatório. Após dois anos de estudos,
ingressou no curso Processos de Produção Mecânica da Faculdade Pública
de São Paulo (FATEC-SP).
"De
80 alunos na sala, tínhamos seis mulheres. Destas, duas desistiram nos
primeiros semestres", conta a coordenadora comercial. Depois, Raquel
ainda cursou Engenharia de Produção Mecânica. Agora, após oito anos de
experiência na área, Raquel, que já passou por três empresas da área de
máquinas (Ergomat, Okuma e, atualmente, na Mitsui Motion), percebe um
crescimento no número de mulheres no setor. "Trabalho em algumas feiras,
nas quais expomos nossos produtos, e cada vez mais o número de
mulheres, profissionais da área, vem aumentando e a tendência é que isso
aconteça nos demais setores", afirma.
Para ela, o maior desafio de atuar em um segmento ainda composto
majoritariamente por homens, é ter uma postura diferenciada e mais
incisiva no convívio profissional. O presidente da Mitsui Motion
Máquinas, Marcos Bastos, acredita que a presença feminina em setores,
como o metalmecânico, não é apenas uma tendência, mas um necessidade das
próprias empresas.
Salário
De acordo com pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), em 2010, a diferença salarial entre homens e
mulheres era de 25%. Em uma pesquisa da Mercer, divulgada em 2012, o
operacional é o setor da empresa que mais reforça essa diferença
salarial, no qual os homens costumam receber um salário 63% mais alto
que as mulheres. Na presidência, o gap salarial é de 42%.
Para o sócio da Search Consultoria em RH, Renato Maleckas, essa
diferença salarial vem diminuindo da indústria e a tendência é que haja
um equilíbrio nos próximos anos.
Por Karine Wenzel/ Portal CIMM