Fonte: Correio Braziliense - 26/02/2013
O trabalho dos alunos faz parte de um esforço de outros pesquisadores em investigar a viabilidade da matéria-prima. Dados da tese de doutorado do pesquisador Juliano Bragatto,
desenvolvida na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq),
da Universidade de São Paulo (USP), em novembro de 2011, apontam que a
casca do eucalipto tem 20% menos carboidratos do que a de cana. No
entanto, indica a pesquisa, ela tem mais hidratos de carbono suscetíveis
à fermentação — 83% contra 65% da cana —, o que tornaria o uso do
eucalipto viável. "Uma tonelada de cana produz cerca de 80l de etanol,
enquanto a mesma medida de casca fresca de eucalipto produz 106l",
afirma Bragatto.
Quando
se compara a área plantada, contudo, a cana se mostra mais produtiva.
"Um hectare de cana-de-açúcar produz cerca de 6 mil litros de etanol,
enquanto um de casca de eucalipto produz 2,6 mil litros. Já o hectare de
milho e de beterraba produz cerca de 3 mil litros, mas é bom lembrar
que eles são alimentos", diz o pesquisador, segundo quem a casca de
eucalipto deve começar a ser aproveitada pela indústria nos próximos
anos para produzir bioplástico ou etanol.
Os estudantes Pedro Henrique Alves da Silva, Paulo Henrique Roversi,
Carolina Maria de Oliveira, Gabriel Fabel e Elena Velloso são otimistas
com relação ao eucalipto. "A produção da casca é mais barata e
vantajosa, e pode ser ainda mais econômica se for feita em escala
industrial", avalia Roversi. Ele ressalta que a casca de eucalipto não
concorre com a indústria alimentícia, não passa por períodos de
entressafra e não é usada para a produção de celulose. Os estudantes
passaram quatro meses pesquisando e testando em laboratório o eucalipto e
matérias-primas diversas. Alunos do mesmo período produziram etanol de
beterraba e de outros alimentos. "Pensamos testar com bananas ou com
mandioca, mas nos decidimos pelo eucalipto, e ele foi o mais eficiente
entre os insumos pesquisados", diz o estudante.
Competitividade
O consultor da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) Alfred
Szmarc conta que existem várias iniciativas no país e no mundo para
consolidar o processo de produção de etanol celulósico a partir do
bagaço e da palha da cana, mas defende que a possibilidade de o insumo
ser obtido em larga escala a partir de cascas de eucalipto ainda tem que
ser demonstrada. Ele explica que o princípio utilizado na casca é de
certa forma o mesmo utilizado no bagaço e na palha. "Acho ótimo ouvir
sobre essas iniciativas e torço para que deem realmente certo. Mas, pelo
que conheço do assunto, acredito que a competitividade do etanol de
cana é maior. Nem sempre é possível reproduzir em escala industrial o
que é feito em laboratório, e projetos para produzir álcool a partir de
madeira existem no país desde a década de 1970", afirma.
Szmarc se diz otimista em relação à recuperação de competitividade do
etanol, e espera que o governo anuncie medidas ainda neste semestre para
beneficiar a indústria canavieira. "Por sete ou oito anos, o preço da
gasolina para o consumidor quase não foi alterado. Enquanto isso, o
preço do etanol ao longo desse tempo variou livremente, e os custos de
terra e agrícolas aumentaram. O etanol foi se tornando cada vez menos
competitivo em relação à gasolina. Some-se a isso a crise de 2008, que
atingiu o setor", lembra. Ele desmente também a ideia de que a variação
no preço do açúcar interfere fortemente na produção de etanol: "Isso é
uma lenda urbana. O produtor não consegue reverter toda a sua produção
para o açúcar ou para o etanol. A flexibilidade não ultrapassa os 10% ou
12%".
Bragatto acredita que a tendência de aproveitar a biomassa deve crescer
nos próximos anos em todo o mundo. O Brasil, avalia, tem todas as
condições de liderar esse processo. "Nosso país é o que chamam de
hotspot de biomassa. Temos o bagaço da cana
e o rejeito de eucalipto em abundância", explica. Ele lembra ainda que
as condições climáticas e de luminosidade no território nacional são
ideais para o crescimento das duas culturas.
Por Felipe Canêdo/ Correio Braziliense
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