Fonte: Correio Braziliense - 08/03/2013
Para o governo, os números divulgados ontem (7) foram um alívio,
sobretudo porque a fabricação de bens de capital — máquinas e
equipamentos usados para expandir a produção — cresceram
expressivamente. Na prática, isso significa mais investimentos,
justamente o que o Palácio do Planalto deseja estimular para diminuir a
inflação e impulsionar o Produto Interno Bruto (PIB). O segmento
registrou alta de 17,3% na comparação com janeiro do ano passado, um
desempenho que encerrou 16 meses de recessão nesse ramo da indústria.
"Janeiro mostrou um comportamento positivo sob qualquer detalhamento
que se faça. Nos bens de capital, o bom desempenho foi puxado
principalmente pelos caminhões", explicou André Macedo, técnico do IBGE
responsável pela pesquisa. Segundo o instituto, o segmento de
equipamentos de transporte teve crescimento atípico para o mês e
registrou elevação de 61,3%. Somente a fabricação de caminhões aumentou
206%, mas a magnitude desse número sofreu influência de uma paralisação
das montadoras, em janeiro do ano passado, motivada por mudanças nos
motores para reduzir a poluição. A produção de automóveis, por sua vez,
avançou 25,3%, garantindo o bom resultado apresentado pelo ramo de bens
de consumo duráveis.
Tendência
O governo já esperava uma recuperação da indústria em janeiro, mas não
contava com expansão tão expressiva. Para a equipe econômica, os números
refletem as medidas para estimular a economia, como a desoneração
tributária de vários setores produtivos e a redução do IPI para veículos
e eletrodomésticos. Nem o Planalto nem os especialistas, contudo,
acreditam que o resultado expressivo do primeiro mês do ano se repita em
fevereiro. As informações preliminares, ao contrário, indicam que houve
retração.
"Levando em consideração os indicadores antecedentes, não esperamos que
o desempenho de janeiro vá se repetir no mês seguinte", ponderou
Mariana Hauer, economista do banco ABC Brasil. Segundo ela, o Índice de
Confiança do Empresário Industrial, medido pela Fundação Getulio Vargas
(FGV), apresentou estabilidade entre janeiro e fevereiro. Além disso, a
produção de caminhões encolheu 1,6%, e a de automóveis caiu 14,1%.
Diante disso, a expectativa é de um resultado fraco ou mesmo negativo no
segundo mês de 2013.
Estoques
Na visão do Itaú Unibanco, o avanço da indústria em janeiro pode ter
sido apenas pontual. "Avaliamos que esta alta foi em grande parte
determinada por fatores de curto prazo, como recomposição de estoques em
alguns setores", avaliou Aurélio Bicalho, economista da instituição.
Segundo ele, embora o crescimento tenha sido disseminado, alcançou menos
segmentos do que o usual em um avanço dessa magnitude. "Para fevereiro,
os sinais são de queda, compensando parte da alta de janeiro",
acrescentou. Na previsão do economista, os dados do mês passado devem
mostrar uma queda de 1,8% na produção industrial. No entanto, o avanço
do início do ano já ajudou a melhorar os números gerais da economia.
"Mesmo com a expectativa de recuo, a confirmação de um crescimento
elevado da produção industrial em janeiro aumenta a chance de que o PIB
tenha, no primeiro trimestre, uma expansão mais alta do que a prevista",
ponderou.
O Itaú Unibanco calcula que, em função do desempenho das fábricas em
janeiro, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), como o IBGE chama os
investimentos, cresceu. "O nosso índice mensal que avalia esse item
avançou 4,5% na margem, influenciado em grande parte pelo crescimento do
consumo aparente de máquinas e equipamento", projetou Bicalho. "No
entanto, não observamos no conjunto de informações recentes sinais de
que a intensificação do crescimento do começo deste ano está associada a
fatores persistentes que poderiam se propagar nos trimestres
seguintes."
Trajetória errática
Apesar de ter dado os primeiros passos para fora do atoleiro, a
indústria não deve recuperar o protagonismo no PIB. Para Newton Rosa,
economista-chefe da Sul América Investimentos, esse papel ficou para o
setor de serviços, que se fortaleceu com a ascensão de 40 milhões de
brasileiros à classe C nos últimos 10 anos e a expansão da renda. "Mesmo
com o dado positivo de janeiro, a indústria vai crescer ao longo do ano
de maneira errática."
Juros subindo
A decisão do Banco Central de abandonar a promessa de manter a taxa
Selic estável por "um tempo suficientemente prolongado" levou o mercado
futuro de juros a fortalecer as apostas em um aperto monetário em abril
ou maio. Em decisão amplamente esperada, o Banco Central manteve a Selic
estável em 7,25% na noite de quarta-feira (6), mas deixou a porta
aberta para elevar a taxa, dependendo do comportamento da inflação.
Ontem (7), os contratos DI para julho de 2013 alcançaram 7,23%, ante
7,21% na véspera. A taxa para janeiro de 2014 era negociada a 7,79%,
ante 7,67% no ajuste de quarta-feira. Pesquisa da Reuters mostrou uma
pequena maioria de economistas esperando que o BC eleve a taxa básica
neste ano, e muitos prontos para mudar a projeção se a inflação
continuar alta. Dessa forma, as atenções dos investidores estarão
voltadas hoje para a divulgação do Índice Nacional de Preços ao
Consumidor Amplo (IPCA) de fevereiro.
Por Victor Martins/ Correio Braziliense
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