A graduação em Engenharia Civil é a primeira no ranking, com alta de
49,2%. Logo em seguida está Engenharia de Produção, com acréscimo de
26,5%. Direito cresceu apenas 5,6% e Administração caiu 0,1%.
Os números mostram, afirma o Semesp, uma resposta dos vestibulandos à
divulgação em massa de pesquisas que atestam a falta de engenheiros no
País. É de olho nesse mercado que remunera bem e carece de mão de obra
que muitos jovens começam a optar pela Engenharia em detrimento de
cursos que são commodities por aqui, como Administração, Direito,
Enfermagem e Pedagogia - juntos, respondem por 40% do total de
matrículas.
"Só se fala nisso, que haverá um apagão de mão de obra, que o Brasil
está importando engenheiros da China. Isso tudo é verdade e estimula
quem está decidindo sua profissão", diz Rodrigo Capelato, diretor do
Semesp.
Foi exatamente esse apelo que motivou Camila Pereira, de 21 anos, a se
matricular, no início deste ano, no curso de Engenharia Civil da Anhembi
Morumbi. "Minha primeira opção era Arquitetura, mas li uma reportagem
que apontava a falta de engenheiros e mudei de ideia", conta.
No caso de Camila, a troca foi feita antes do início do curso, mas não é
raro, nas salas de Engenharia, encontrar desistentes de outros cursos e
até quem decidiu mudar de profissão. "Na minha turma, por exemplo, há
arquitetos formados que recomeçaram na Engenharia para incrementar a
renda", diz Camila.
Ela terá o diploma apenas em 2016, fora do prazo para atuar nos grandes
eventos esportivos, como a Copa do Mundo e a Olimpíada. Mas ela tem
certeza de que não lhe faltará emprego. "Penso em algo mais definitivo e
que só tende a crescer, como o programa Minha Casa, Minha Vida, do
governo federal."
Defasagem
Apesar do otimismo de Camila, o aumento de calouros nos cursos de
Engenharia não significa o crescimento no número de egressos. Isso
porque, além de os cursos de exatas já registrarem, por tradição, um
alto índice de evasão, o porcentual deve crescer ainda mais com a
chegada desse novo público, parte dele não vocacionado para a profissão.
"O fenômeno é recente, mas já dá para prever que, estimulados pelas
perspectivas de mercado, muitos sem afinidade com matemática, disciplina
básica para o curso, decida estudar Engenharia e tenha de parar quando
constatar o déficit de repertório", diz Capelato, do Semesp.
O diretor da Escola de Engenharia e Tecnologia da Universidade Anhembi
Morumbi, Fabiano Marques, percebeu a mudança de perfil. "As pessoas
relacionam a educação com a ascensão social e acabam diminuindo a
questão vocacional", afirma.
Neste ano, a instituição registrou um crescimento de 62% no número de
calouros de Engenharia Civil e de 65% nos de Engenharia de Produção.
Para não perdê-los um semestre depois, conteúdos fundamentais de
matemática e física fazem parte do material extracurricular à disposição
na intranet e os professores também prestam atendimento para sanar
essas deficiências.
Na Universidade Cruzeiro do Sul, cresceu em 45%, neste ano, o número de
matriculados em Engenharia Civil. Se for considerado o aumento desde
2007, o número de alunos quintuplicou, de 140 para 777.
De olho no aquecimento do mercado que levou para lá estudantes pouco
afins às disciplinas das exatas, o coordenador do curso redesenhou a
grade curricular. "Sem deixar de lado o conteúdo da própria engenharia,
inserimos aulas que ajudam o aluno a suprir suas carências de matemática
e física", afirma Miguel Leon Gonzalez. Com isso, diz, conseguiu que a
taxa de evasão se estabilizasse em 10%.
Retenção
Com o maior número de engenheiros, o desafio do mercado será atraí-los e
retê-los na área. Pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(Ipea) de 2009 mostrou que, de cada dez engenheiros, seis atuam fora da
área. Muitos sequer chegam a ter experiência no segmento. São pinçados,
na saída da graduação, pelos programas de trainee do sistema financeiro,
interessado em seu raciocínio lógico. Só neste ano, 36% dos trainees do
Itaú são engenheiros.
"Conheço quem optou por esse caminho, até porque o salário inicial é
maior", diz Ernando Tesch Delorto, aluno do quinto semestre de
Engenharia de Produção na FEI. "Eu não quero isso. Mesmo que ganhe
menos, quero trabalhar na minha área."
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