Há décadas os robôs povoam o imaginário humano e a ficção científica, nos papéis de ajudantes domésticos, filhos substitutos, super-heróis ou mesmo algozes do homem. Embora menos fantástica, a realidade não é tão diferente. Em algum nível, já temos vários deles em nossas casas, muitos são empregados em diversos ramos da indústria e sondas robóticas já conquistaram até a superfície de Marte. Mas, segundo especialistas, isso é apenas o começo: os robôs vieram para ficar e serão cada vez mais comuns no nosso dia a dia.
Depois de revolucionar as linhas de montagem, a robótica chega a nossas
casas a bordo de eletrodomésticos automáticos e carros autodirigidos, a
um passo de invadir as ruas. Na medicina, cirurgias com precisos braços
robóticos já são feitas no Brasil e próteses e exoesqueletos
controlados pelo pensamento podem virar rotina. Na indústria bélica,
robôs são usados para reconhecimento, transporte e até ‘combate’.
Singrando terra, ar e mar, os robôs batem recordes de velocidade,
literalmente chegam ao olho do furacão e até fazem plantão como
salva-vidas, dançarinas, atrizes, educadores e mesmo cientistas.
Mais do que uma presença constante em nosso cotidiano, para o
engenheiro italiano Antonio Bicchi, da Universidade de Pisa, na Itália, e
do Instituto Italiano de Tecnologia, os desdobramentos da robótica vão
mais longe. Ele prevê que o desenvolvimento de robôs pessoais com as
mais diversas capacidades impulsionará uma revolução no mundo com um
impacto potencial similar ao da criação do automóvel.
“Temos vivido uma revolução intangível das comunicações e da
informação, um movimento que, aliado à capacidade de interação entre
homem e máquina, será catalisador da próxima revolução tangível: a
robótica, a tecnologia da ação”, acredita. “Os robôs estarão em nossas
casas de forma mais eficiente do que hoje, vão dirigir nossos carros,
trabalharão ombro a ombro com o homem nas fábricas e vão dar assistência
a quem precisar deles.”
Investimento e crise
Europeus, norte-americanos e japoneses aparecem como líderes na área de
robótica. A Alemanha, a América do Norte e o Japão concentram cerca de
dois terços dos mais de um milhão de robôs do mundo, segundo a Federação
Internacional de Robótica – um mercado que movimenta quase 20 bilhões
de dólares anuais. Em junho de 2012, os Estados Unidos anunciaram um
programa de robótica que pretende colocar o país na liderança mundial da
área.
A revolução das máquinas já começou e é muito provável que uma horda de
robôs invada nosso dia a dia num futuro próximo. Mas, segundo
especialistas, isso deverá facilitar, e muito, nossas vidas.
Com tantos robôs por aí, um dos temores mais comuns é o aumento do
desemprego estrutural. No Japão, por exemplo, pesquisas indicam que os
autômatos (utilizados em linhas de montagem) poderiam substituir até 3,5
milhões de trabalhadores até 2025. Mesmo na China, famosa por sua mão
de obra barata, os robôs vêm ganhando espaço em diversos setores.
Para o engenheiro Marco Meggiolaro, coordenador da RioBotz, equipe de
robótica da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
(PUC-Rio), a tendência da robotização não é acabar com o emprego, mas
justamente o contrário. “As atividades de desenvolvimento, manutenção e
operação dos robôs criam postos de trabalho e estimulam a migração dos
trabalhadores para áreas mais nobres”, afirma. “O problema é que, quando
temos um quadro de recessão, queda da produção e do consumo, a
tendência é manter os robôs e reduzir os empregados.”
Robotização, ainda que tardia
No Brasil, a robótica avançou muito nos últimos 20 anos e algumas
escolas até incluíram a disciplina em seus currículos. Mas os obstáculos
ainda são grandes. “Em comparação com outros países, o investimento é
pequeno, a pesquisa é muito concentrada nas universidades e há pouca mão
de obra especializada”, afirma Meggiolaro. “A maioria das soluções em
robótica é importada. Mesmo para pesquisa é preciso importar materiais,
um processo lento e caro que atrasa o desenvolvimento.”
Hoje, as áreas com maior destaque no país são a dos robôs autômatos e a
dos móveis (veículos robóticos utilizados principalmente para monitorar
e inspecionar áreas de acesso restrito ao homem). O engenheiro Glauco
Caurin, da Universidade de São Paulo (USP), também destaca a aplicação
da robótica nacional no setor de petróleo, em especial na exploração do
pré-sal.
Caurin é um dos idealizadores do primeiro centro de robótica do Brasil,
que será inaugurado pela USP no próximo ano. “O objetivo do centro é
criar tecnologias e produtos para outras áreas, criar novas indústrias”,
explica. “A robótica pode ajudar a atender as necessidades de nossa
sociedade – algumas tipicamente brasileiras –, com soluções que, se não
forem criadas localmente, não poderão ser importadas.”
Para o engenheiro, a inclusão da robótica de forma sólida na indústria
brasileira também passa pela criação de um ambiente favorável ao
investimento privado.
Atletas de metal
Na base do desenvolvimento desse complexo campo, estão iniciativas que,
à primeira vista, parecem mais brincadeira do que ciência: as
competições de robôs. Nelas, estudantes, engenheiros e fãs de robótica
competem em categorias que exigem habilidades específicas de cada tipo
de máquina, colocando à prova os mais novos conceitos e equipamentos.
Para Antonio Bicchi, “as competições representam um tremendo impulso
para a área, pois ajudam a capilarizar a robótica pela sociedade”.
A
maior competição mundial de robótica é a RoboGames, uma olimpíada com
mais de 50 modalidades que reúne centenas de equipes de vários países. O
Brasil tem feito bonito no evento: esteve entre os primeiros colocados
das últimas quatro edições, com destaque para as equipes Uai!rrior, da
Universidade Federal de Itajubá (Unifei), em Minas Gerais, e RioBotz, da
PUC-Rio. Outras competições importantes são a BattleBots, para robôs de
luta, e a Robocup, a copa do mundo do futebol robótico. No Brasil,
entre os principais eventos estão a nossa olimpíada de robótica (confira
matéria na CH On-line) e a RoboCore.
“Os campeonatos são divertidos, desafiadores e suas muitas categorias
estimulam o aprendizado das diversas áreas da robótica”, afirma o
estudante de engenharia Renan Martines, capitão da equipe Uai!rrior. Ele
completa: “As bases dos projetos dos robôs mais avançados do mundo não
são muito diferentes daquelas que criamos, apenas têm outras
finalidades. Por isso, nas competições são aprimoradas tecnologias para
serem aplicadas em diversas áreas de interesse da humanidade”.