O empresário Felipe Cavalieri, da BMC Brasil Máquinas, de São Paulo,
não esconde a ansiedade com o andamento das obras da fábrica de
equipamentos para construção, que está sendo erguida em Itatiaia, no
Estado do Rio de Janeiro. Sócio da coreana Hyundai no empreendimento,
que deve consumir US$ 150 milhões, Cavalieri até instalou um aplicativo
em seu iPhone para transformá-lo numa espécie de monitor que acompanha,
em tempo real, o movimento dos funcionários no local. O celular reproduz
imagens de uma câmera instalada no canteiro de obras. A inauguração da
fábrica, que vai produzir escavadeiras, pás carregadeiras e
retroescavadeiras, está prevista para fevereiro do ano que vem. “Estamos
trabalhando dia e noite para tentar antecipar esse prazo”, diz o
empresário, de 33 anos.
O pacote de R$ 133 bilhões, anunciado pela presidenta Dilma Rousseff no
mês passado, promete estender a malha de ferrovias e rodovias, e, por
consequência, garantir ótimos negócios para os fabricantes de bens de
capital. A venda de máquinas já havia explodido na última década no
Brasil. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas
(Abimaq), o setor deve movimentar US$ 118 bilhões em 2012, um aumento de
6,8% em relação ao ano passado, e o triplo de 2003, quando segmentos
estratégicos, como a construção civil, começaram a retomar o fôlego
perdido na década anterior.
A paulistana Polimix, por exemplo, uma empresa de concretagem de
cimento, vem ampliando o consumo de máquinas desde 2008, quando
programas como o PAC e o Minha Casa Minha Vida passaram a estimular a
construção civil. “Nunca se consumiu tanto cimento no País como agora, o
que nos obriga a renovar 20% dos equipamentos todos os anos”, diz Galid
Osman Didi, diretor- superintendente da Polimix, que conta com 170
filiais em todo o País. A empresa utiliza betoneiras, bombas de concreto
e pás carregadeiras para prestar serviços às principais construtoras do
mercado. Mais do que isso, o governo tem criado condições especiais
para facilitar a venda de máquinas, importante indicador para a taxa de
investimento, que ficou em 17,9% do PIB no segundo trimestre, muito
abaixo da meta de 22% desejada pela presidenta Dilma Rousseff.
Um dos melhores incentivos celebrados por fabricantes e consumidores de
equipamentos é a taxa de 2,5% da linha de financiamento do BNDES, o
Finame, para a compra de bens de capital nacionais, válida até dezembro.
“Essa linha é o grande pulo do gato”, diz Cavalieri, da BMC Máquinas.
Osman Didi, da Polimix, vai na mesma direção. “Com esses incentivos
queremos antecipar as compras do ano que vem”, diz Didi. A condição do
financiamento oferecido pelo BNDES é considerada tão favorável que mesmo
aqueles que já haviam desistido de comprar novas máquinas neste ano
começam a reavaliar sua posição.
É o caso da MP Terraplenagem, empresa paulistana que aluga tratores e
escavadeiras, entre outros, para terceiros, além de executar serviços de
terraplenagem. Como a idade média da frota é de apenas dois anos, a
direção da empresa não pretendia fazer mais nenhuma aquisição neste ano.
“A taxa é excelente e a gente está pensando em aumentar a frota”, diz
Sandro Piro, diretor da MP Terraplenagem. Na quinta-feira 13, o
Ministério da Fazenda resolveu dar mais uma forcinha para convencer
indecisos, como Piro, ao anunciar que as empresas que adquirem máquinas
nacionais, até o fim do ano, poderão contabilizar a depreciação em até
cinco anos, em vez dos habituais dez anos, o que gera um benefício
fiscal.
Empresas estrangeiras
Incentivos governamentais, aliados às perspectivas favoráveis para os
próximos anos, têm feito do Brasil um polo de atração de empresas
estrangeiras. A americana John Deere, fabricante de tratores e
colheitadeiras, está construindo duas fábricas em Indaiatuba, no
interior de São Paulo. O empreendimento, em parceria com a japonesa
Hitachi, tem investimento de US$ 180 milhões e deve ficar pronto no fim
do ano que vem. “Em máquinas agrícolas e infraestrutura, o Brasil é um
mercado com enorme visibilidade”, diz Werner Santos, diretor- comercial
da John Deere.
“O Brasil é mais que um mercado emergente, é uma nação que gera
negócios.” O entusiasmo dos fabricantes estrangeiros, no entanto,
contrasta com a preocupação da indústria nacional, que vem perdendo
terreno. “Não falta mercado”, diz Luiz Aubert Neto, presidente da
Abimaq. “O problema é que as empresas de fora estão dominando o pedaço.”
De fato, a participação do maquinário importado passou de 41,4% para
50,1% das vendas totais, nos últimos cinco anos. As medidas de incentivo
do governo para a produção nacional buscam exatamente equilibrar essa
balança.
Por Luis Artur Nogueira/ Istoé Dinheiro