Mesmo após as férias coletivas de julho - estendidas devido à paralisia
nas vendas -, a indústria de motocicletas segue realizando ajustes na
produção para se adequar a um mercado que dá poucos sinais de reação.
A Yamaha - segunda neste mercado, com 10,7% das vendas - decidiu
dispensar por quatro meses 110 funcionários na fábrica de Manaus,
conforme informações do sindicato local.
O mecanismo, conhecido como "lay off" ou suspensão de contratos de
trabalho, é o mesmo adotado neste ano pela Mercedes-Benz no ABC Paulista
e pela General Motors (GM) em São José dos Campos, no interior de São
Paulo.
Ou seja, no tempo em que estiverem em casa, os trabalhadores da Yamaha
receberão uma bolsa de R$ 1,14 mil - em recursos do Fundo de Amparo do
Trabalhador (FAT) - e terão salários complementados pela empresa. Também
vão fazer um curso de capacitação e continuarão recebendo benefícios,
como participação nos lucros e resultados (PLR), férias e décimo
terceiro salário.
Este não é o primeiro ajuste de mão de obra no polo de fabricação de
motos na Zona Franca de Manaus. A Abraciclo - entidade que representa as
empresas do setor - estima em dois mil os cortes de vagas desde
janeiro.
"Cada marca está analisando os ajustes que precisam ser feitos. Mais
postos podem ser perdidos se não houver uma recuperação do mercado", diz
Marcos Fermanian, presidente da Abraciclo.
Em julho, a Honda - líder no mercado, com quase 80% das vendas - foi
obrigada a estender as férias coletivas em sete dias. Antes disso, a
montadora chegou a fazer algumas paradas na fábrica, que, em uma
situação normal, seria capaz de produzir uma moto a cada oito segundos.
A Yamaha, por sua vez, diz que tem interrompido sua produção, mas
sempre oferecendo licença remunerada aos metalúrgicos, com vista a
manter os postos de trabalho para o momento de retomada das vendas.
De janeiro a agosto, as vendas de motos no atacado - da montadora à
concessionária - caíram 17,4%, somando 1,1 milhão de unidades. Já a
produção caiu 16,1%, para 1,2 milhão de motos.
O desempenho vem sendo prejudicado pela alta seletividade dos bancos na
hora de liberar empréstimos para a aquisição de motos. Fontes da
indústria e de revendas dizem que apenas 15% das solicitações de crédito
estão sendo aprovadas.
Fermanian diz que a maioria dos bancos pede, no mínimo, 20% de entrada e
os prazos máximos caíram de 48 para 36 meses. "O rigor tem sido maior
para os consumidores de motos", diz.
Para o executivo, a indústria caminha para fechar o ano com 1,7 milhão
de motos vendidas, 17% abaixo do volume de 2011 (2 milhões de unidades).
Nas contas da Fenabrave - a entidade que representa as concessionárias
de veículos -, os emplacamentos de motos tendem a cair 12% em 2012.
Na tentativa de reverter o cenário, medidas para destravar o crédito
foram solicitadas ao governo, como liberações de compulsórios e cortes
nas taxas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). O setor também
pede uma posição mais ativa dos bancos públicos nas liberações de
empréstimos.
Importadores podem cortar mais 5 mil vagas
Nova queda nas vendas de carros importados levou a Abeiva - entidade
que representa o setor - a prever ontem (13) novos cortes de postos de
trabalho até o fim do ano. Desde janeiro, dez mil vagas foram eliminadas
pelas empresas de importação de carros, levando o quadro de
funcionários para 25 mil pessoas.
Segundo Flavio Padovan, presidente da Abeiva, outros cinco mil empregos
podem ser cortados até dezembro, como resultado do fechamento de lojas e
enxugamento de custos pelas companhias.
Desde 16 de dezembro, as importações de carros pagam 30 pontos
adicionais de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Esse fato,
combinado à desvalorização do real ante o dólar, derrubou em 27,5% as
vendas dos automóveis de marcas sem fábrica no Brasil entre janeiro e
agosto.
Nos oito primeiros meses do ano, foram emplacados 93,7 mil carros
importados, ou 3,9% do mercado total. Os números incluem os resultados
de marcas como Kia Motors, JAC e Chery.
Para 2012, a Abeiva ainda prevê o recuo de 40% nas vendas. Apesar do
recorde da indústria nacional em agosto, as vendas de carros importados
caíram 41,4% no mês passado, quando comparadas a igual período de 2011,
somando 12 mil unidades.
O volume, contudo, representa uma evolução de 11,5% sobre julho, quando
foram vendidas 10,7 mil unidades. Para Padovan, o setor está "à beira
do colapso".
Os importadores ainda aguardam uma posição do governo sobre o pedido de
cotas de automóveis que ficariam livres do aumento do IPI. Padovan
afirmou que a medida foi prometida pelo governo, mas seu anúncio vem
sendo adiado desde maio.